A dor e a delícia de um amor inventado
Freud fala de um mecanismo chamado projeção. Ele acontece quando enxergamos ideais, pensamentos, desejos, sonhos e até sentimentos indesejáveis em outras pessoas, que são nossos e às vezes não os reconhecemos. Todos projetamos, vez por outra, sem perceber.
Algumas vezes, nossa vida amorosa é construída por projeções. Solidão e tédio, duas coisas que parecem sufocar devagar. Um dia vazio, nada interessante para fazer e aceitamos o convite da pessoa que foi desinteressante desde o início, mas quem sabe melhora…
Dias depois, essa pessoa é única, te entende e é a única que consegue te tirar do vazio quando você cai nele. Talvez você tenha projetado o que queria encontrar em alguém, naquela pessoa; talvez seja um amor inventado, fruto da monotonia de uma vida sem muitas realizações.
Não propago uma visão pessimista do amor, mas é preciso separar o que é amor e o que é uma invenção de nossa carência, nosso desconhecimento sobre nós mesmos e nosso medo da solidão. Inventamos um amor em busca de um sentido, e embora tenha lá sua beleza, um amor inventado, geralmente nos leva direto ao vazio e à solidão que tanto evitamos.
Isso acontece porque a pessoa por quem “nos apaixonamos” não existe de acordo com todas aquelas características pensadas. E quando percebemos, levamos um tombo, os pensamentos se embaralham, um nó é feito. Uma vez ou outra, um amor inventado não nos faz mal e nos ajuda a crescer. Mas se repetirmos indefinidamente, corremos o risco de vivermos decepcionados e até ficarmos amargurados.
Mas se entendermos que uma projeção fala de nosso desejo, estaremos aprendendo sobre nós e sobre o rumo que queremos dar à nossa vida. A vida real pode ter mais frio na barriga, mais realizações e menos dor que uma vida fantasiada.