Funed, o tricolor quarentão
O jogo contra o Audax já estava nos descontos quando Lelei se preparou para cobrar a falta. Havia 10 adversários na barreira e uma camisa a ser honrada…
Diante da bola, estática e próxima à risca da grande área, o lateral direito respirou fundo, observou a posição do arqueiro atrás da muralha e calculou o impacto do chute.
A redonda ganhou altura, viajou sobre a barreira e caiu de uma vez, numa rota semelhante ao rabisco de uma parábola. Depois, balançou a rede enquanto ao goleiro, imóvel, restou o lamento da derrota por 4 a 3.
Um golaço digno de craques como Didi, Tostão e Nelinho. Mais do que isso, um gol para honrar a camisa do Funed, clube fundado em junho de 1977 por seu Flávio Antônio, então trabalhador na Fundação Ezequiel Dias (Funed), com sede no bairro Gameleira e especializada na produção de soros e medicamentos.
A presidência do tricolor – preta, branca e vermelha – é hoje ocupada hoje por Lelei, apelido de Walter Gonçalves, o atual ala direito que jamais se esquecerá do gol de falta.
Para comemorar o aniversário do time quarentão, o elenco atual e ex-jogadores organizaram amistosos, no penúltimo fim de semana de julho, no campo de terra na Via-Expressa, na divisa entre os bairros Padre Eustáquio, Gameleira e Calafate.
Sobraram histórias e não faltaram gols. Entre um papo e outro, amigos saborearam recordações de vitórias e derrotas. Aliás, o futebol de várzea em BH é cheio de causos curiosos.
O próprio presidente e atual ala direita coleciona vários. Lelei, na verdade, é um atacante que, quando preciso, defende o tricolor improvisado na zaga, no meio-campo e, como agora, na lateral.
Uma vez ele atuou como arqueiro. “O titular não pode ir ao jogo. O reserva também não. Um jogador de linha foi para debaixo da baliza no primeiro tempo. Eu ‘catei’ no segundo. E não levei gol”, garante o rapaz.
Aléssio Leal também faz parte do elenco. Ala esquerda, ele estreou no clube há três anos. Logo na primeira partida fez dois gols: “Estávamos perdendo por 3 a 1, entrei em campo e fiz dois tentos. No primeiro, passei por dois adversários e bati na saída do goleiro. No segundo, depois de receber belo lançamento, bati forte e cruzado. A bola morreu no canto”.
O Funed Esporte Clube, embora seja um dos clubes mais antigos em atividade na capital, não disputa o amador da Federação. Prefere importantes torneios, como a Copa da Amizade, em razão de parte do elenco também defender outras camisas.
SAIBA MAIS: E quem é o personagem que deu origem à Fundação e, consequentemente, ao clube? Ezequiel Dias (1880-1922) foi um médico e cientista que se dedicou aos estudos da microbiologia e da medicina experimental. Nasceu em Macaé (RJ). Trabalhou no Instituto Manguinhos, hoje Fiocruz, e presidiu a filial da entidade em BH. Dez anos depois de sua morte, vítima de tuberculose, a filial foi rebatizada em sua homenagem. Posteriormente repassou ao controle do estado.
Em julho, o portal de notícias Jornal do Padre Eustáquio contou a história do Padre Eustáquio Futebol Clube, que defende a memória do beato e leva o nome do bairro aos gramados da várzea da Grande BH. Para ler a reportagem, clique aqui.
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