A literatura e os Direitos Humanos
Paulo Fernandes – Olá, pessoal!
Na coluna de hoje apresento uma entrevista com a doutoranda em Direitos Humanos Laura Campolina.
Acredito na literatura como instrumento para educação em Direitos Humanos e realizo um trabalho desde 2018, o “Rodas de Leitura: Literatura e Direitos humanos”, com as crianças da Escola Municipal Maria de Rezende Costa.
Na próxima coluna contarei a vocês deste meu trabalho.
Leiam a entrevista.
1-O que são Direitos Humanos?
Definir Direitos Humanos não é uma tarefa fácil e já foi objeto de muito debate e pesquisa. Isso porque de sua definição dependem também sua aplicação, sua abrangência e seus fundamentos. De maneira objetiva, podemos adotar a definição da ONU (Organização das Nações Unidas) e afirmar que os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. São direitos que todo individuo possui, independentemente de qualquer característica que ostente ou circunstância em que se insira, podendo ser mencionados o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Particularmente, não acredito em uma concepção jus naturalista dos Direitos Humanos. Em outras palavras, não acredito que essa cartela de direitos essenciais é algo dado e pronto desde o omento do nascimento. Isso porque a história nos mostra que esse rol de direitos vem se ampliando na medida em que a sociedade evolui e passa a enxergar disparidades que antes eram normalizadas (direitos da mulher, direitos da criança e do adolescente, direitos do trabalhador, direitos da população LGBT etc). Nesse sentido, os direitos humanos são muito mais o resultado de processos históricos de lutas e conquistas do que algo inato. Por essa razão, a definição desses direitos humanos é processo que esta em constante atualização, sempre tendo em vista a máxima efetivação da dignidade para a pessoa humana.
2- Qual a importância da educação em Direitos Humanos?
A educação em direitos humanos se propõe a estabelecer processos de formação tanto para conscientização a respeito desses direitos, quanto para a transformação da realidade. Assim é uma educação comprometida com a mudança, possibilitando ao homem a prerrogativa de atuar como condutor de seu conhecimento, fazendo deste seu instrumento de luta e superação das injustiças, opressões e exclusões, bem como um meio de promoção da dignidade humana.
Nesse sentido, a educação em direitos humanos é essencial à efetivação e expansão dos direitos humanos, bem como à efetiva conscientização do que são esses direitos, auxiliando na quebra de preconceitos e visões limitadas sobre o tema. A educação em direitos humanos não deve se restringir ao ambiente escolar, mas incluir o convívio familiar e as relações de amizade e trabalho. Educação em direitos humanos se faz em sala de aula, mas, sobretudo, se faz no dia a dia.
3- Qual o papel da escola na educação em direitos humanos?
A escola, como ambiente de convivência e formação da criança e do adolescente, tem papel essência na consolidação de uma consciência social voltada para direitos humanos. É importante mencionar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação impõe o dever de se trabalhar os direitos humanos como tema transversal no currículo escolar.
4-Qual o papel da literatura na educação em Direitos humanos?
A literatura tem o poder de nos transporta para realidades diferentes da nossa, tem a capacidade de gerar em nós empatia e identificação com sentimentos que talvez nunca venhamos nos mesmos a vivenciar. Tais habilidades são essenciais para o desenvolvimento de uma consciência voltada para direitos humanos e que seja capaz de perceber a diversidade ao redor.
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5-Quais obras você indica para quem quiser iniciar o aprendizado sobre Direitos Humanos?
Para se conhecer e pensar direitos humanos, acredito que muitas obras podem contribuir e não necessariamente elas precisam tratar diretamente do tema, trazendo o termo “direitos humanos” no título, por exemplo. Nesse sentido, obras biográficas como “Eu sou Malala” (Malala Yousafzai), “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” (Maya Angelou) e o clássico “O diário de Anne Frank” (Anne Frank) têm seu valor. Em se tratando do gênero poema, um destaque atual são os livros de Rupi Kaur (O que o Sol faz com as flores e Outros Jeitos de Usar a Boca). Para quem curte livros mais técnicos ou documentais, vale a leitura de “A invenção dos direitos humanos – uma história” (Lynn Hunt) e “Estranhos à nossa porta” (Zygmunt Bauman). Cabe sempre mencionar, em se tratando deste tema, os livros de Sergio Vaz e Maria Carolina de Jesus. Enfim, a lista é infindável e, talvez o mais importante não seja propriamente a obra, mas o olhar cada vez mais aguçado para identificar discursos e realidades que permeia nossa humanidade e seus direitos.
Agradeço a Laura Campolina pela gentileza em responder as perguntas e convido vocês para conversarmos mais a respeito de literatura e Direitos humanos.
Uma boa semana e até a próxima!!