A noite em que taxistas salvaram JK

Meus avós, seu Pepe e dona Stella, vieram de navio da Itália para o Brasil, como muitos. Meu avô, pedreiro de ofício, trabalhou na construção dos prédios na Praça da Liberdade e, depois, na da própria casa, aqui no Carlos Prates. Então eu cresci ouvindo muitas histórias aqui da região e uma delas, que se passou no então aeroclube do Carlos Prates, teve como protagonista o presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976), também conhecido como JK.

Descendente de italianos, José Lúcio Bonani é morador do Carlos Prates e integrante do grupo que trabalha em favor do bairro. É voluntário em serviços sociais

Juscelino, como sabem, disputou a eleição de 1955 pelo PSD. Enfrentou o candidato da coligação PDC/UDN, Juarez Távora (1898-1975), e teve vitória apertadíssima. Quase não foi empossado, não fosse a interferência do general Henrique Lott.
Seu vice, João Goulart, o Jango, também não era bem-visto por setores conservadores das forças armadas. Seu lema: “50 anos em 5”, que envolvia, dentre outras coisas, a construção de Brasília, era uma ameaça aos poderosos e o comunismo assombrava os EUA, o que levava este país a interferir na nossa política por meio do FMI – Fundo Monetário Internacional.

Jk, o mais bossa-nova dos presidentes

Este era o contexto da época. Portanto, eram dias conturbados e as forças armadas não mediam esforços para derrubá-lo e instaurar um governo militar, o que viria a ocorrer somente em 1964.
Voltando ao tema, pois até agora apenas contextualizei a época, estamos em um dia do ano de 1958 quando o presidente JK, costumeiramente, despachava no Palácio do Catete e, depois, visitava outros estados, inclusive Goiás, onde Brasília estava sendo construída, viajando de avião, uma de suas paixões. Outra seria as mulheres, dentre elas a mais importante de todas: a jovem M., esposa de um importante político.
Parece que fujo do tema, mas como verão mais adiante, a jovem M. será de extrema importância a meu ver, pois, naquele dia, ou melhor, naquela noite, visto que o presidente acabara de cumprir sua agenda e se dirigia a Belo Horizonte, onde seu avião pousaria, JK, supostamente, teria um encontro com a jovem M.
Mas enquanto JK voava naquela bela noite alguns militares da Aeronáutica, em terra, tramaram desligar todas as luzes do aeroporto da Pampulha e de tantos outros quanto o avião do presidente tentasse pousar. A aeronave já estava quase sem combustível e os pilotos fariam um pouso de emergência quando o tanque se esvaziasse. Neste momento, a jovem M. vai esperá-lo no aeroporto e desconfia da trama ao ver as luzes da pista apagadas.
É aí então que se lembra do pequeno Aeroclube do Carlos Prates, operado pela OMTA (Organização Mineira de Transportes Aéreos) e que, por se tratar de aeroclube civil, não foi difícil para a jovem M. persuadir o operador de rádio a se comunicar com os pilotos do avião do presidente e passar-lhes as coordenadas, ou vetores, como dizem na aviação. Mas ainda havia um problema: esta pista não tinha iluminação.
Foi então necessário articular com os taxistas que faziam ponto no aeroporto para que eles colocassem seus automóveis com os faróis ligados ao longo da pista para o pouso do avião de JK. Não foi difícil, visto que ele era muito carismático e querido pelo povo, pelo menos o de BH. Foi assim que se salvou.
Esta história de fato aconteceu. Meu pai me contou há muitos anos quando eu era criança. Talvez não com esta riqueza de detalhes, pois não sei se ele falaria sobre a jovem M. Anos mais tarde, o jornalista mineiro Pedro Rogério Moreira escreveria o livro “Um folhetim estrelado por JK: Bela Noite para Voar”, transformado em filme em 2009, que conta também esta história e que eu convido e recomendo a assistir. Dirigida por Zelito Viana, a película conta com os atores José de Abreu, no papel de JK, e Marcos Palmeiras, no de Carlos Lacerda. Coube a Mariana Ximenes interpretar a jovem M.
Vou pedir ao editor para colocar um trechinho no site do jornal para aguçar-lhes a curiosidade. Sei que muitos dirão que é ficção, como inclusive disse o diretor do filme, mas eu garanto que não é. Garanto que foi fato. Abraços e até a próxima. Clique no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=cHrORFBTfS4