Caminhada pela paz, segurança e justiça

A fina chuva sobre o Padre Eustáquio na noite de sábado (16) não foi por acaso. Para parentes e amigos de Ramon Santana, vítima de cinco tiros na cabeça disparados no domingo anterior por um cabo da Polícia Militar que estava de folga, a garoa era uma espécie de lágrimas de quem já está no céu.

Ramon tinha 35 anos, morava no bairro desde criança, era casado e não media esforços para garantir uma vida melhor aos dois filhos, de 2 e 5 anos. Seu lema foi herdado do beato holandês: “Saúde e paz!”.

Amigos e familiares de Ramon Santana fizeram passeata no Padre Eustáquio.

Era assim que ele se despedia das pessoas. Até daquelas que acabara de conhecer. Na noite de sábado, porém, foi a vez de quem está com o coração partido homenageá-lo. Familiares e amigos foram ao santuário dos Sagrados Corações para a missa de sétimo dia.

 

Após o culto, saíram em passeata. Pediram paz e segurança. Também cobraram justiça pelo assassinato. Ramon perdeu a vida poucas horas depois de almoçar com os filhos e a esposa numa pizzaria. Levou a família em casa e foi prosear com camaradas no Bola, tradicional bar na Progresso com a Padre Eustáquio.

 

O que deveria ser uma tarde feliz deu lugar ao pesadelo. Por motivo banal, o qual ainda é investigado pela Divisão de Homicídios, Ramon e o militar discutiram. A origem do bate-boca pode ser a tatuagem de palhaço do rapaz.

Ramon tinha 35 anos. Foto: álbum de família

No mundo do crime, a pintura é sinônimo de matador de polícia. Ramon não era. “Ninguém pode julgar ninguém por uma tatuagem”, disse um amigo que prefere o anonimato.

 

Ramon morreu sentado na mesa do bar com cinco tiros na cabeça. “Era querido por todos. Tinha berço. Ainda que estivesse errado, o que todos duvidam, o militar não agiu como manda a própria corporação. Deveria ter dado voz de prisão. Mas o que ele fez? Sacou a arma, apontou para a cabeça de um pai de família e apertou o gatilho cinco vezes”, desabafou outro amigo.

“Queremos Justiça!!!”, reforçou um familiar. Em coro, amigos e parentes saíram pelas ruas do bairro. Primeiro, rezaram um Pai Nosso e uma Ave Maria.

Depois, protestaram. Levaram faixas com frases pedindo segurança, paz e justiça. Com o consentimento da PM, fecharam o trânsito da Padre Eustáquio por alguns minutos.

 

Esta semana, alguns deles irão à corregedoria da PM. O militar, cuja identidade é mantida em sigilo, entregou a arma ao delegado responsável pela investigação. Alegou legítima defesa.

“Ele deveria ter aguardado a chegada da PM no Bola Bar, mas foi embora após apertar o gatilho”, disse outro colega. A Divisão de Homicídios tem 30 dias (10 de janeiro de 2018) para concluir o inquérito.

Veja o vídeo da passeata e, em seguida, outras reportagens sobre o tema

 

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