Cutucando as feridas

Deise Dias (psicanalista) –

Quando criança ouvimos a mãe dizer “para de cutucar esse machucado!”. Era só criar casquinha e a gente botava o dedo até sangrar. Um ‘prazer’ em tirar a casquinha que se formou.

Depois de grande, continuamos colocando o dedo na ferida que está se fechando.

Dias de Souza é psicanalista, mestra em psicologia pela UFMG Rua Jacutinga, 567, Padre Eustáquio // Blog www.deisedias.com.br Instagram @deisediaspsi facebook: deise.dias.507 facebook: psicanalisedeisedias

Observe. Passam dias, semanas, meses sem mexer no que nos causa dor. Um dia, cutucamos a ferida até o sangue jorrar de novo. Pode ser fuçar as redes sociais de alguém do passado, mandar uma mensagem e se arrepender depois, ver fotos antigas, ficar se perguntando o que poderia ter sido diferente.

Quando colocamos o dedo na ferida, vai sangrar, vai doer, vai demorar mais um bocado de tempo para ela se fechar de novo. Quanto mais a gente mexe, pior ela fica e mais feia ficará a cicatriz. Mais difícil também.

Uma sugestão? Não cutuque a ferida que sangra. Deixe quieto tudo que pode abrir feridas em seu peito.

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Não jogue fora um processo de cicatrização por algo que não vai ser nada além de repetição. Não vale a pena remoer sobre alguém ou algo que você precisa deixar para trás.

Quando somos criança, os pais ensinam a não colocarmos o dedo na ferida. Quando crescemos, precisamos ensinar a nós mesmos a não voltarmos para o que nos feriu.

Cada dia longe das coisas, relações e situações que nos causaram dor ou nos feriram no passado, é mais um dia de um processo de luto que precisa chegar ao fim.

Ao resistir à tentação de cutucar a ferida, a gente deixa que saia de dentro tudo que precisa ser superado. Não reabrir a ferida é impedir que a dor retorne. O tempo só cura aquilo que permitimos.

Não cutucar as feridas é prosseguir no processo de cicatrização. Por mais atrativo que possa parecer revisitar o passado, lembre-se que sua vida já não está lá.