Os centros culturais e seu papel na formação da criança leitora
Paulo Fernandes – Olá, pessoal!
Desde o fim de 2019 não publico minha coluna, mas estou de volta e com textos inéditos e semanais.Para iniciarmos 2020 no melhor estilo, conversei com Érica Lima, que vocês terão a grande alegria em conhecer no nosso bate papo logo abaixo.
Mas, antes, gostaria de fazer duas perguntas: você sabe o que é um centro cultural? Já conhece o da sua regional?
Convido vocês para conhecerem a Érica, sua trajetória e o trabalho que desenvolve. Boa leitura.
Olá Érica, conte para os leitores e leitoras desta coluna um pouco da sua trajetória profissional e como leitora.
Olá! Primeiramente, gostaria de agradecer o convite do Paulo para compartilhar com vocês, aqui, um pouquinho da minha história com os livros, as artes e, claro, as pessoas. Minha mãe conta que aprendi a ler com quatro anos de idade. Parece que um dia eu virei pra ela e disse: “Mãe, eu sei ler”. E li. Era um anúncio num jornal. Meus pais compravam muitos jornais. E revistas e livros. São muitas lembranças e, claro, não dá pra falar de todas aqui. Mas vale a pena pincelar algumas para compor para vocês uma história, ainda que provisória, do meu percurso leitor e profissional. Fui para a escola com um ano e nove meses: Instituto da Criança, método Montessori. Segundo minha professora da época, eu andava atrás dela, de fralda no bumbum, contando histórias o “dintirim”! Mas que histórias – eu me pergunto – teriam uma criança de um ano e nove meses pra contar? E eu mesma me respondo – muitas! Afinal, tudo é história! Nós, seres humanos, narramos o tempo inteiro. É quase como respirar. Não apenas vivemos, mas conta os e compartilhamos o nosso viver o tempo todo. E não há época mais intensa do que a infância. São muitas experiências e, portanto, muitas histórias. E penso que vim assim, desde a infância, ligada nas histórias. Formei-me atriz, pelo Centro de Formação Artística e Técnica da Fundação Clóvis Salgado – CEFART /Palácio das Artes; entrei para o Grupo Real Fantasia de Teatro, onde atuo, escrevo e dirijo espetáculos de teatro para crianças de todas as idades; entrei para a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, onde trabalho com a promoção da leitura e a formação artística. No caminho, os encontros e reencontros fazem toda a diferença! Como este com o Paulo Fernandes, ator e contador de histórias, colega ativista literário!
Nos fale a respeito do trabalho que desenvolve no Centro Cultural Salgado Filho.
O Centro Cultural Salgado Filho é um dos 17 centros culturais da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Funciona na Rua Nova Ponte, 22, no bairro Salgado Filho. Lá, junto com uma equipe extremamente qualificada, venho desenvolvendo, já há um ano, um trabalho consistente de promoção da leitura e formação artística. São oficinas, encontros, rodas de conversa, apresentações artísticas, saraus, mostras que movimentam a região oeste e também atraem público de outras regiões de Belo Horizonte.
Érica qual a importância dos centros culturais para formação da criança leitora?
Todos os nossos centros culturais possuem bibliotecas que são, como eu costumo falar, o coração desses equipamentos. Elas cumprem não só seu papel nas políticas públicas de livro e leitura, como também catalisam a convivência e as ações de formação, fomento, patrimônio e produção cultural dos centros culturais. Isso é muito importante para a formação da criança leitora, que tem nas bibliotecas públicas da FMC não só o acervo de literatura e a mediação de leitura qualificados, como também o contanto com as outras linguagens e manifestações artísticas e culturais da cidade.
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Quais os critérios você acredita serem essenciais pais e mães adotarem na escolha de um livro para criança?
Digo sempre nos cursos e oficinas de mediação da leitura que ministro para pais, mães, professoras e bibliotecárias que o ponto de partida é o percurso leitor de cada um de nós. Estar em contato ou retomar o contado com a nossa relação afetiva com as histórias e os livros é fundamental. Trata-se de um percurso muito pessoal que às vezes traz lembranças alegres, outras vezes tristes. É feito de carências, mas também do reconhecimento da preciosidade de momentos esquecidos da infância nos quais uma avó, um avó, uma professora, uma tia doaram tempo e voz para compartilhar histórias. Lembrar-se disso é emocionante para muitos participantes das oficinas. O nascimento dos filhos também causa um reencontro com histórias, livros e leitura, pois as mães e pais passam a se dedicar à leitura com os filhos. Além da relação afetiva com a literatura, penso que é fundamental conhecer verdadeiramente os livros que temos hoje para as infâncias. São muitos e muito bons. Assim, ser leitor e leitora desses livros, conhecer o trabalho dos escritores e ilustradores, as editoras, frequentar livrarias é o caminho para fazer suas boas e originais escolhas.
Qual é a importância da literatura na vida de uma criança?
A literatura é importante na vida de todos os seres humanos. E é, como bem postulou Antônio Candido, um direito. Assim, é nosso dever estimular a criança ao máximo, oferecendo contato com as histórias e livros. A literatura nos humaniza. Faz-nos ter uma relação com o saber que não é dogmática, nem didática, mas artística e filosófica.
Como você vê essa onda avassaladora de livros lançados por youtubers?
Os booktubers são um fenômeno! Rs.
O que é uma boa literatura para crianças?
Acho que boa literatura é boa para todas as idades. Nossa visão (e produção) de literatura para crianças mudou ao longo dos tempos. Hoje temos mais livros menos pedagógicos e mais artísticos. E o livro ilustrado é simplesmente fantástico. Conquista adultos e crianças!
Qual livro infantil inesquecível para você?
Os que minha mãe lia comigo na minha infância. Eliardo e Mary França, Ou isto ou aquilo, da Cecília Meireles. Outros da escola: O burrinho alpinista, Brinquedos da noite.
Para finalizar, fique à vontade para se despedir dos leitores e leitoras.
O papo foi bom. Obrigada pela oportunidade. Senti que estava mesmo conversando com vocês. Espero que nos encontremos um dia em uma de minhas oficinas, numa livraria, assistindo uma peça de teatro ou no Centro Cultural Salgado Filho. Grande abraço!
Caros Leitores e leitoras espero que tenham apreciado essa entrevista esclarecedora e com importantes orientações.
E se ainda não conhece o Centro Cultural da sua região, que tal levar as crianças para conhecer a biblioteca, os projetos voltados para leitura e aproveitar para fazer parte da vida cultural de seu bairro?
Agradeço a Érica Lima pela gentileza em conversar com os leitores e leitoras do Jornal do Padre Eustáquio.
Até semana que vem!