“Um por todos; todos por um” no Padre Eustáquio

O que começou como uma reunião entre poucos vizinhos na rua Tuiuti ganhou musculatura, avançou para todas as vias do Padre Eustáquio e se tornou uma importante ferramenta em auxílio à Polícia Militar no combate à violência no bairro mais populoso da região Noroeste de Belo Horizonte, com cerca de 30 mil habitantes. A rede de segurança do Padreco no WhatsApp comemora, este mês, 2 anos e meio de criação e de importantes serviços prestados à população. O grupo já conta com 600 pares de olhos.

Vários crimes foram evitados nestes 30 meses devido às postagens sobre indivíduos em atitudes suspeitas e outros alertas, como veículos estacionados com vidros abertos. Os avisos divulgados no grupo servem ainda para coletar informações de áreas vulneráveis que necessitam de maior atenção da PM. Também para listar problemas que favorecem a ação de bandidos, como iluminação pública deficiente, terrenos baldios com mato alto e áreas degradadas.

Sugestões e reclamações já foram formalizadas tanto à 9ª Companhia da PM, responsável pelo policiamento na região, quanto à Prefeitura de Belo Horizonte (por meio do telefone 156) e a vereadores com expressiva votação no bairro.

Tropa da 9ª cia da PM policia o Padreco. Foto: gabinete do Vereador Orlei/divulgação

Sabe como surgiu este importante serviço? Corria abril de 2015 quando moradores da Tuiuti, indignados com a quantidade de imóveis arrombados à época, se reuniram para debater o problema. Surgiu, então, a proposta de criarem a rede de segurança. Vale lembrar que o WhatsApp, naquele ano, só permitia grupos com até 100 pessoas.

A ideia vingou e o número de interessados em aderir ao grupo superou bastante o permitido pelo Zap. Resultado: uma segunda rede foi criada em maio de 2015. Enquanto a corretora Sandra Perdigão administrava a primeira, a professora universitária e arquiteta urbanista Vanessa Freitas gerenciava a outra. Como mais gente quis aderir à iniciativa: Vanessa criou o terceiro grupo em julho do mesmo ano e o quarto, em janeiro de 2016.

Ainda em 2016, a urbanista passou a gerenciar as quatro ferramentas. “A rede surgiu com intuito de destacar a prática da vigilância natural, buscando a autogestão democrática para que o bairro apresente maior vitalidade e segurança. É uma ferramenta de comunicação e para ser eficaz é necessário que os usuários sejam colaborativos e observadores, indicando problemáticas para que todos possam ficar atentos sobre atitudes suspeitas e crimes ocorridos. Sendo assim, a principal função da rede é não deixar que moradores e comerciantes fiquem alheios aos acontecimentos e tenham informação para autoproteção”, destacou Vanessa.

A arquiteta faz questão de ressaltar que as redes são apartidárias e desvinculadas de qualquer instituição ou cargo. “A ideia é que sejam autogeridas, servindo como instrumentos de alerta e até mesmo cobrança. Nelas, não são permitidos bate-papo nem comentários alheios à segurança”.

As redes ganharam um reforço de peso em dezembro de 2016, quando o tenente Rocha, da 9ª companhia, assumiu as ações planejadas para o bairro. O oficial é o primeiro comandante do setor Padre Eustáquio da unidade a participar do grupo no WhatsApp, embora a primeira rede tenha sido criada em abril de 2015 e, neste período, outros quatro oficias do setor Padre Eustáquio tenham ocupado a função. Atento às postagens, o atual comandante do setor Padre Eustáquio orienta a tropa a conferir in loco os avisos divulgados pelos moradores.

“Como policial há mais de 22 anos, considero a integração da comunidade na construção da segurança pública fundamental. Foi sugerido pela PM, há alguns anos, uma parceria para que os moradores fiquem mais atentos a comportamentos e atitudes (suspeitos), facilitando assim a interação comunitária e colaborando com a segurança pessoal e coletiva. Daí surgiu as redes de proteção, conhecidas como Redes de Vizinhos Protegidos. A população mais interagida observa e se previne de muitas situações de risco. E filtra o que não é caso de suspeição. Onde a PM entra nessa história? No apoio e prevenção criminal. Nunca expomos a comunidade em situações de risco”.

Mas é preciso seguir uma recomendação importante: apesar das postagens, as informações sobre crimes ou pessoas em atitude suspeita devem ser oficializadas ao Disque 190. Afinal, é com base em estatísticas que o tenente e a tropa elaboram planos para o patrulhamento tanto por meio de viaturas quanto a pé, realizam blitzes e se posicionam em pontos estratégicos.

“A orientação é sempre acionar a PM para que seja feita abordagem. Por outro lado, essa interação entre moradores é importantíssima para que a rede fique sempre informada dos acontecimentos ou suspeição e, claro, adote um comportamento preventivo. Não tem a intenção de causar pânico nas pessoas e nem é essa a ideia. Crimes podem acontecer em todo lugar e a qualquer horário. Como todos nós somos conscientes e sabedores desse fenômeno, cabe a todos nós tomarmos atitudes preventivas”, ressaltou o oficial.

Vanessa acrescenta: “É bom reforçar que as redes não substituem o acionamento do número 190! Inclusive, recorrentemente, os membros são lembrados de ligarem para o número em caso de suspeição ou crime ocorrido. Se o 190 falhar é possível ligar para a 9ª Cia (3036-1200), que funciona 24 horas, na Avenida Tereza Cristina, próxima da área de lazer e esportes (Cercadinho)”.

REUNIÃO

Uma importante ação da rede é solicitar e incentivar reuniões nas quais a PM apresenta ações realizadas, números alcançados, atitudes de prevenção e interação com a comunidade. Em abril de 2017 foi realizado um encontro. O próximo será em novembro. A data será confirmada em breve e amplamente divulgada.

PM aposta em bases comunitárias para combater criminalidade. Foto: Paulo Henrique Lobato

“Lembro que os policiais da 9ª cia recebem os moradores e pessoas que trabalham ou estudam no bairro e que queiram criticar, solicitar ou elogiar (o trabalho da unidade). Tudo isso também pode ser exposto aos policiais da base comunitária, na praça Sagrados Corações (igreja Padre Eustáquio), inaugurada em 28 de agosto e que funciona diariamente das 14h às 23h30. O telefone da base é 2108-4822. Caso você tenha interesse em participar da rede, procure saber com seus vizinhos se alguém já está inserido para que então você seja indicado e eu possa adicioná-lo. Para nossa segurança, somente é permitida a entrada via indicação de algum membro. Todos estão convidados para serem responsáveis pela rede, mantendo-a ativa, correta e útil”, disse Vanessa.

OBJETIVOS DAS REDES:

– Deixar moradores e comerciantes bem informados sobre o que acontece no bairro para gerar atenção e ação preventiva;
– Refletir e mudar atitudes errôneas para melhorar a proteção individual e coletiva;
– Ampliar o conhecimento sobre a ação da Polícia Militar e valorizar o que tem sido feito;
– Saber os contatos fundamentais para recorrer quando necessário;
– Transformar-se em multiplicador sobre atitudes preventivas e informações que podem gerar mais atenção nos vizinhos;
– Identificar áreas vulneráveis por meio da constância de ocorrências.