Uma história de aprendizado e saudades
Muitos usuários do Parque das Jabuticabeiras não sabem que o local, um dos cartões-postais na divisa dos bairros Coração Eucarístico e Gameleira, é batizado, oficialmente, de Messias Tadeu Galvão, homenagem à liderança comunitária que, por décadas, residiu na Vila São Vicente, antiga Marmiteiros, no Padre Eustáquio.
A lei municipal que oficializou o nome do parque foi aprovada pela Câmara Municipal em 2011, de autoria da ex-vereadora Neusinha Santos, e sancionada no mesmo ano pelo então prefeito, Marcio Lacerda, com o número 10.223: “Fica denominado Messias Tadeu Galvão um espaço de lazer situado entre a rua Craveiro Lopes e a avenida Presidente Juscelino Kubitschek, no Bairro Coração Eucarístico”.
Galvão era um homem especial. Talvez, não à toa, que seu primeiro nome fosse Messias. Natural de Bambuí, no Centro-Oeste do Estado, acreditava que o esporte, a educação, a cultura e o lazer eram fundamentais para a formação de qualquer indivíduo. Fundou a Associação dos Moradores da Vila são Vicente e foi eleito presidente por cinco mandatos consecutivos, permanecendo no cargo por uma década e meia.
Durante sua liderança, a região conquistou a urbanização e pavimentação da comunidade, a reforma e a ampliação do Centro de Saúde Padre Eustáquio, a instalação da UMEI São Vicente, a restauração na Escola Estadual Pedro Dutra.
Seu maior legado, talvez, tenha sido a criação, em parceria com a Associação dos Moradores do Coração Eucarístico, do parque que hoje leva o seu nome.
Em outubro de 2007, contudo, o ex-presidente da Vila foi assassinado.
Já em 2011, no ano em que a lei foi sancionada por Marcio Lacerda, a filha de Galvão, Júlia, escreveu um lindo texto em homenagem ao pai. Leia-o a seguir:
“Meu querido e velho pai,
Não é assim que você sempre se referia à você mesmo quando queria fazer um drama?
Escrevo pra contar que de alguma forma seus netos vão ficar um pouquinho mais perto de você: Agora você virou praça.
Sabe aquele cantinho jogado no meio da Via Expressa que você adotou, construiu pista de caminhada e jardim e deixou que todos usufruissem? Pois é, aquele cantinho virou uma praça de esportes oficial com seu nome: Praça Messias Tadeu Galvão.
Agora a Flor pode dizer que foi numa espécie de “casa” do vovô.
O Daniel pode se gabar de ter um avô eternizado. E pode contar vantagem quando alguém disser “Vamos pra praça?” e ele dirá “qual praça? A do meu avô?”.
Podemos passar por ali pra ver se você aparece. Eu juro que vira e mexe eu ainda te procuro quando ando por ali.
Você sabe que por mais certeza de que você não está aqui, sempre especulamos que na verdade você resolveu sumir no mundo depois dos filhos crescidos e vagar sem rumo. Eu ainda espero na certeza de um dia depois das 11 da noite você bater no portão lá de casa e responder: “Sou eu, minha fia!”, como se nada tivesse acontecido…
Outro dia a Flor te chamou. Queria saber se ela te viu. Ela dizia: “Tia Júlia, você tá muito bagunceira, vou contar pro seu pai que tá lá na sala!”. Eu gelei com a certeza doce de que você passou por ali…
Não há um dia sem saudades, não há uma festa sem lembrança.
E quando eu te encontrar, eu vou te dar um cocão por você ter ido embora tão cedo!
Essas são as boas novas. Ainda não fui na sua praça, pois não estou preparada pra passar um dia inteiro chorando. Mas irei em breve. Você estará lá? Espero que sim…
Com amor, Júlia.”